terça-feira, 17 de novembro de 2009

(Sem título)


A música daqueles dias estava de baixo volume... Sem botão para reajustes, permaneceu assim.
Não sei bem onde continuei aquela leitura de partitura, mas lembro exatamente dos sons que escondi em meus pensamentos, em minhas memórias tão gastas, tão doloridas.
Mas é isso, a dor chega em dias justos, cheios de poeira negra e grudenta, e dispara sobre nós um alívio imediato sem cores, sem cheiro algum.
Meu nariz não mais se abre pra o seu perfume doce, delicioso de se deixar levar.
Encontrar-se no emaranhado de sensações que ele provoca/desperta sem dó e muito menos piedade de tipo algum, seria encontrar muitas páginas para ler, sem rasgar, sem tocar com muita força. Devagarinho, isso sim.
Mas eu tenho pressa... Tenho uma sede insensata pra hoje, pra agora, pra esse instante que já está passando, espia.
E você não alcança mais. Não me dá a mão pra eu te alcançar. Você se vai, foi, foi pra lá.
Mas o seu perfume doce, perigoso até, fica sempre pelos cantos, pelo teto, no travesseiro que as vezes segura sua cabeça. Fica até nas mamadeiras sentadas no móvel do meu quarto.
E a sua cor, essa já desbotada pela quantidade de sóis que te acompanham (que inveja!), me faz ter recordações das imensas tardes que tivemos trocando, a sua cor na minha (ou o inverso)... Me lembro tanto dessas tardes, com ou sem chuva... com ou sem as trancas certas... com ou sem a felicidade que eu quis um dia, inutilmente.
Sabe que nem tão inútil assim me sinto agora, pensando melhor...
Na verdade, a gente nem sabia onde começavam as coisas, as horas, aqueles dias. A gente sabia da gente. Sabia que hoje era sim e amanhã também quereria ser.
Bom, né???
Eu me recordo disso agorinha. E nem sei como comecei a lembrar logo dessas tardes.
Logo das vontades de você que me preenchiam os vazios que eu mesma cavava em mim, dentro desse oco que agora tenho ecoando.
Logo agora, que você saiu, bateu uma porta ao fim e disse não estar ansiando voltar... E por quê???
Meu agora está nessas tardes que se esqueceram de mim, deixaram de me encontrar.

Mas sei bem o quanto ainda percorro aquele caminho que te chega.
Percorro detalhadamente, sem pressa e freios.
Chegando ao seu portão, ou porta, ou janela, fresta (quem sabe?), te digo com tanta devoção que ''ainda permanece inabalavelmente dentro do meio seio''.
Te digo ainda que ''nenhuma tarde alcançaria o que aqueles dias me bastaram''.
Chega, você sabe disso. Você decorou de tanto eu te afirmar indecorosamente.
Está tão calor... Das minhas janelas já nem entram ventos, nem sopros, nem mesmo o seu perfume... Ele também acabou.
E eu continuo piscando e percorrendo os ponteiros que anunciam a sua visita de amanhã.
Você agora é visitante.
E eu???
Estou te esperando.