segunda-feira, 31 de agosto de 2009

E... e minha casa!


Se eu fosse minha casa e tivesse exatamente a idade dela, eu seria uma incógnita.
Eu teria janelas amarelas e velhinhas, já... Teria grades ao meu redor e mais que isso, teria poeira de anos acumulada nos cantinhos mais invisíveis deste ano.
Eu guardaria segredos de muitas dores debaixo deste piso que acolhe os pés de quem me visita. E dentro dos parafusos que seguram as portas, também amarelinhas, eu mostraria o ferrugem que deixei lamber um passado inesquecível.
Aqui já moraram outras pessoas. E vi nelas outras possibilidades, já que eu não tinha a forma que agora me dei, e nem mesmo as cores que ganhei com o novo.
Eu tinha coqueiros no quintal, este era de terra (o que também já faz parte do meu passado).
Tive laranjeiras, capim santo e roseiral na varanda, assim como cheiro de barro molhado nas noites de chuva boa e esperada, sagrada, que escorregavam pelo muro baixo, de pedras cinzentas e pesadas.
Se eu pudesse ser uma casa, eu gostaria de ser como esta aqui.
Que chama por nomes à noite, que grita em segredo segredos que ninguém entende, e por vezes nem mesmo se escuta.
Eu não mudaria o tamanho, os compartimentos, nem mesmo o quintal ou a varanda. Eu deixaria as coisas no lugar, mas daria cor.
O sol passeia o dia inteiro por aqui, até a tardinha o chamar pra brincar longe e assim, dar lugar a algumas luas que também se mostram pelos lados de cá, e iluminam todo esse chão que finca pé aos arredores das paredes rosadas e de janelas grandes, velhinhas mas pintadas de um amarelo bom, amarelo de criança.
Do meu muro, este ao lado da janela de meu quarto, eu escuto pássaros e algumas galinhas que meu vizinho possui no quintal dele. As vezes me assusto com o galo que não tem hora pra chamar o dia ou a noite...
Vejo também o verde de algumas plantas e o azul que o céu veste (hoje é azul claro... que azul será o de amanhã?).
Sinto os cheiros que o vento sempre traz, e os barulhos que ele faz quando chega.
O calor também entra por esta minha janela... E meu ventilador azul, o que tenho ao lado de minha cama, ele espirra e chacoalha o suor que escorre pelos meus dedos e mãos e nuca.
Em cima desta casa, um gato qualquer faz cantoria e chama para junto dele, outros gatos... Quando tenho paciência, até gosto de ouvir... Quando não, coloco os cachorros para latir e fazê-los correr pra longe, bem longe deste telhado já tão gasto, mas vivo.
Eu gosto desta casa.
Gosto de estar sempre por aqui.
Gosto mais ainda das lembranças que trago pra cá, seja de que tempo seja...
Neste momento, o meu momento, recordo das malas chegando e dos guardarroupas abertos abrigando a minha vida, o que um dia já foi chamado de nova vida.
Mas eu sou somente eu, e este é somente o meu lar, a minha casa!
E que bom, somos de cores diferentes e de passados, de recordações, de desejos idem, todos idem!
E que bom!
Hoje é segunda-feira, última do agosto.
(Eu suportarei o próximo agosto???)
Quiçá!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

E por que não eu?


Gargalhei muito noite passada.
E como numa deliciosa lambança de chocolate meio amargo com goles de refrigerante de uva, me fartei!
Há muito os risos que me alcançam não passam de historinhas engraçadinhas e pequeninas, se é que me entende este monte de diminutivos...
Não sei como cheguei a um sono tão rápido, mas sei exatamente o que sonhei. E foi bom!
Mistura de saudades-proclamadas-inexistentes com o amor, muito amor guardado e com cheiro de mofo, de madeira molhada, de cupins maldosos e famintos. Haja cupim nas minhas noites e nos meus dias, haja!
Mas isso não me impede de mover as pernas e os lábios. Muito pelo contrário...
Me impulsiona, como uma mola bem grande e sem ferrugem. Lá vou eu!
O sol está rasgando minhas janelas e minhas frestas. Achei que nem apareceria hoje, já que tem se rendido a pequenos golpes de chuva, de vento frio e delicioso.
Volte para a praia e me devolve o nublado de ontem, vá lá... Por favor!
Hoje quero um pouco do algodão macio de minha cama, de meu travesseiro e do meu pijama... Quero mais um pouco de manha, só mais um pouquinho!!!
Minha preguiça é tamanha agora...
Sensação de pasta de dente escorregando na escova. Ou de uma toalha molhada estendida ao vento, sem direção.
Estou borbulhando novamente, e mais uma vez certa das escolhas que assinei, certa das ruas que fugi, certíssima dos cheiros que ainda vão se grudar a mim.
Ainda estou com preguiça...
Melhor eu correr pra meus lençóis mágicos (ou seriam tapetes?), e percorrer aquelas ruas que eu tenho curiosidade de pisar e fincar as unhas.
É bem melhor ver os prédios de cá.
Desta minha janela, eu alcanço o canto de algumas andorinhas.
(Ai se sêsse...)
Por que não eu???

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A vida é gangorra sim!


O engraçado das minhas noites mal dormidas, é que fico matutando sobre tudo... Inclusive sobre as besteiras que ainda cultivo à água filtrada nos meus pensamentos mortificantes.
Nunca me imaginei tão pensante como agora. E digo isso com pesar, claro.
Entenda, não estou afirmando que não sou uma criatura pensante ou algo assim (não mesmo).
Estou apenas dizendo que nunca fui de ficar analisando as coisas do passado, do presente e desse futuro que tá entrando pela porta da frente, desenfreadamente sim.
Acho mesmo que sou daquelas (ou fui) que 'agia duas vezes antes de pensar'. Mas foi assim que caí tanto, ralei meus joelhos e cotovelos, deixei que o sangue fosse a água que sempre me escorria pelos dedos dos pés. E aprendi assim, foi exatamente desta forma que aprendi a distinguir o cheiro de sangue, o gosto de uma solidão, a febre de um desejo inalcansável.
Cá com meu zíper, recordei durante estas madrugadas que acompanham meus medos do escuro, que nunca fui tão completa com amigos e com meus pais como agora!
Os problemas que eu trazia pra dentro do meu quarto, não eram resolvidos e nem mesmo apreendidos. Eu fugia, fugia de mala e cuia, e por vezes deixava em cada canto desta casa um choro, um abandono, uma falta irreparável.
Há alguns anos eu transformava minha idade e minha revolta com o passar desta, em trovadas e muitas chuvas de granizo.
Creio que jamais fechei certas feridas nestas minhas paredes, nos meus lençóis, neste meu travesseiro que sempre me esperava a cada saída e batida de porta atrás de mim.
E toda a poeira que fincava pé nos meus móveis, no meu ventilador azul, inda que fosse retirada, manchava os caminhos que eu não tinha deixado passar, andar.
A minha verdade é que eu sobreviví e nada mais que isso. Nenhum ponto a mais.
Minha vida tem sido agora, hoje.
E parece que a cada sorriso que retribuo por tudo de maravilhoso que tem chegado à minha janela, recebo ainda mais amor de pessoas incríveis, de pessoas que me trazem de volta dia após dia.
Eu voltei pra o meu canto cheia de dores, amarguras e espinhos.
Mas voltei e ganhei armadura contra solidão e falta de fé.
Esperança é meu alimento, assim como o amor.
Tudo tem seu tempo.
E que bom!
A vida é mesmo gangorra!

"Ver que tudo pode retroceder!"

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Terça literária


E num encontro de literatura onde só o cheiro do café feito no local abre a mente, a vontade de escrever aflora, mas aflora pra dentro, muitas das minhas vezes.
Ouvindo resenhas, coisas de blog (ainda que rapidamente e quase que inaudível), eu senti tanto não ter conseguido me expressar com essas teclas na minha página virtualíssima, mas de carne e osso pra mim, como há tempos quero.
Mas é fato.
Tem dias que a gente sente, pensa, corre, pula, chora, ri pra dentro.
Fica tudo explodindo, mas dentro, guardadinho, escondido.
E não sai, não sai nem querendo, nem rezando!
E dói.
Dói não conseguir fluir, dói guardar, prender...
Cheguei em casa tão leve... Escutei coisas boas, de qualidade. Esbarrei com delicadezas que fazem bem. Me enconstei no que dá prazer.
Não sei, mas cada vez mais me convenço do que quero ter na vida, e mais que qualquer outra idéia de matéria, o que eu quero mesmo é palavra, são palavras.
Não importa se em formato-Times-em-tamanho-12-sem-ser-negrito-ou-itálico... Quero palavras com cheiro, com textura, com memória.
Depois de sanduíche para o Davi, um copo de suco de laranja (sem cenoura e sem beterraba, ufa!), corri pro computador e fiquei oscilando entre o meu twitter e as folhas de cá...
Vontade de substanciar minha nostalgia, alegria, dúvida, confusão, amor, desejos!
Eu sou tanta gente dentro de mim borbulhando feito refrigerante quando se abre a tampa.
Sou tantos sentimentos, sou tantos tantos que me caberiam aqui se eu pudesse.
Mas eu posso, não é?
Só sei que vou virar esta página e deitar um pouco minha cabeça no travesseiro, que não é de penas de avestruz, muito menos de ganso, mas é suficientemente macio pra o meu pesar, o meu falar baixinho e secreto.
Gosto de ser só uma ao dormir, pois assim posso confessar meus pecadilhos (ou pecadões) sem medo de ser ouvida, sem medo de ter medo.
Hoje foi bom.
Gosto de sair e sentir outro cheiro que não o meu.
Gosto de ver sorrisos que cabem em mim.
Gosto muito das minhas companhias fraternas e amáveis, pra sempre. (Mas hoje sem plural.)
Gosto de receber, de dar, de compartilhar, de ver tudo isso.
Gosto mais ainda dessa hora de silêncio sepulcral, de silêncio de respiração.

Quero mais.
E que seja.

domingo, 16 de agosto de 2009

no domingo, agora!


O vento entrava soprante e louco, como que numa revolução de espaço, de terrirório.
Abria as janelas e rapidamente rodopiava pelo quarto, cheirando tudo e se certificando do que poderia não mais restar em pé ali, exatamente naquele canto.
E nada restou.
O azul que chegava há pouco, dividiria lugar com o dia, com a réstia de calor que entrava pelos cortilhos da porta e com as cortinas bailarinas que, incansáveis, dançavam o tempo todo que a elas lhes pertencia.
Eram donas da dança, do espaço entre elas e o azul, entre o vento e o sol.
Cheguei a titubear pra entrar no quarto. Vacilei com a mão na maçaneta. Mas entrei.
Tudo me levou pra fora dali. Viajei mesmo e por minutos dormentes, não alcancei mãos e nem pés. Quase caí.
Não senti nada parecido em vida. Nunca na vida.
E é um amor tão insano, tão meu e egoistamente meu, tão enormemente insano e meu.
Fechei a porta por trás de mim, corri pra meu canto e pensei na minha vida.
Tudo estava mudado, consumado, incontrolavelmente.
Nada seria mais, nada teria mais, nada, nada mesmo poderia ter a fé de antes, o cheiro de sempre, os pensamentos, as pulsações, o incontrolável.
E tudo corria pra um natural que me assustava. E não poderia não assustar!
Que seja.
Não há tempo pra mais nada que não ir.
Tempo que é tempo não espera, arrasta.
E o tempo agora, além de ensolarado e perdido no azul, grita pra eu abrir ainda mais as janelas, as portas, as frestas.
Tá na hora.
E tem que ser agora.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Enfim, sós!


Não que eu me esquivasse de tudo o que escuto de vez em quando, nem do que vejo quando posso (ou não posso evitar).
O fato é que foi só você tocar nisso, me fazer lembrar... Pronto!
Revivi tudo numa noite só... Deu saudades sim, claro, foi inevitável.
Mas isso foi tudo. Não deu em nada!
E como eu te falei, e mil vezes falei, o tempo levou pra longe.
Não está mais aqui há alguns meses. Eu não queria que fosse assim.
Ah, se eu pudesse escolher... Tenho certeza de que nem precisaria te dizer.
Mas é isso. Foi isso.
O vento levou.
E talvez levou a golpes grandes, espalhando sem piedade alguma toda aquela poeira que estava entranhada por lá.
E pra lá não devolveu e nem devolveria, eu acho!
Os dias são outros e tantos outros hoje.
Não tem mais os ponteiros da tarde de antes, ou das noites fugitivas.
Nem mesmo as mensagens direcionantes ou a mesmisse maravilhosa que sempre recobrava os sentidos.
Há mais que isso.
Há mais que tudo isso hoje.
Antes eu estava sempre acelerada, suspirante e nervosa (sem motivos), e sempre à espera, sempre.
Não havia um só dia em que meu sono depois do almoço, não fosse interrompido por um sorriso, por uma gargalhada ou uma bronca por besteiras (eram sempre besteiras).
Não dormia sem antes dar-lhe boa noite, nem acordava sem dizer-lhe bom dia.
Não podia existir o 'sem'. Era pecado mesmo!
E foi assim por um tempo improvável, eu diria.
Minhas noites e meus dias, com tardes no meio, eram todos interrompidos, todos, um a um.
E eu era feliz.
Talvez menos que hoje, ou tanto quanto, ou mais.
Mas eu era feliz, de alguma forma.
E tudo passou... Tudo foi levado por um sopro enorme, escandaloso e vagabundo e despudorado.
Hoje cá estou, te dizendo que por sua culpa, por sua tão somente culpa, fui levada às pressas pra uma lembrança velha, adormecida como num conto de fadas rosas e imaculadas.
Por conta de você, eu fui capaz de sentir outra vez uma saudade que não me pertence e não vai se repetir, disso pelo menos não tenho medo de ter certeza.
Não tenho medo de ter certeza de certas coisas... É simples!

Os dias são outros, são novos, são mais meus que dele, bem mais, disparadamente mais.
Os dias que estão chegando todos os dias, são de uma mudança que não tem medo, assim como eu, de chegar, de tomar lugar, de roubar lugar.
Hoje não mais espero as tardes ou as noites, elas vêm.
Não mais sinto a felicidade de antes, sinto outra.
Não quero mais os sonhos que eu esperava pra ter, posso ter mais que sonhos.
Hoje você se foi mesmo, de verdade.
E só hoje eu posso ter paz, já que meu coração esqueceu como se escreve seu nome, quais são os números do teu telefone, quais são os caminhos que me levam pro teu endereço.
Hoje, e que bom que já é hoje, eu posso finalmente só sentir saudades suas, e não sua falta!
Acabou.
Eu estou mesmo liberada!!!
Enfim, sós!!!