quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A biópsia...


Hoje esperando pelo atendimento numa clínica radiográfica (fui fazer uma biópsia da mama esquerda), passei olhares pelos arredores que me cercavam e, sem me dar conta, me dei conta de que me olhavam também. Sorri rapidamente e levei minha curiosidade pra outros ângulos, mas com o pensamento naqueles olhos que se comprimiam entre meu desviar...
O mundo que habita fora de mim é tão colorido, tão perfumado e tão mais algumas coisas.
Não quis nada, não desejei nada e muito menos esperei. Passei por ali, bebi um chá de camomila (estava tão nervosa com a idéia das agulhas, dos resultados das lâminas) e traguei alguns. Não me ative ao medo, não. Eu pensei o tempo todo naquele olhar que cruzou meu sorriso, e na maneira como levemente eu gostaria de sair dali. E falando sério, eu contei cada querer meu...
Quando eu não olhava, era observada. Mas quando resolvia corresponder, o olhar é que sorria e se escondia também num sorriso, ou vezes nem nisso, simplesmente se mostrava pensando noutras coisas, quiçá noutros olhares...
Minha vez não chegava, os médicos entravam e saíam e nada de me chamarem pelo nome ou gentilmente me pegarem pelas mãos falando confortáveis palavras, ainda que desnecessárias pra o meu frio na barriga. Este, inevitável!
O tempo não mudava a situação, e meus tremores no coração, se tornavam ainda maiores a cada minuto que não acontecia. Na verdade, eu queria que tudo terminasse de uma vez, que minha sentença fosse assinada e meus degraus na escadaria da Penha fossem logo contados um a um.
Os olhos se foram, juntamente com a vez. A dele chegou, e eu não mais pude trocar de lugar ou brincar de 'da vez'.
Li o jornal e nada entrava em foco. Nada! Só as agulhas me interessavam, se é que me entende! Só as picadas me vinham coloridas e grossas e demoradas... Eu só pensava nas agulhas!
Quando saí de lá, depois de todo esse 'não mais aguentar' estar sentada ali, dividindo o perfume do meu shampoo com o éter daquelas macas, respirei fundíssimo e feliz da vida, traguei o último cigarro do meu bolso.
Entrei no carro, ainda deixei que uma lágrima de incerteza escorresse e borrasse meu rímel, mas ao mesmo tempo, lembrei que me esperavam em casa com abraços, travesseiros e sorrisos de gente nova do pedaço.
Lá vou eu, esperar que a vida não seja tão breve e nem tão doída quanto agora. Mas quer saber? Fala sério...
Tudo se encaixa no tempo dos ponteiros.
Tic tac ou não, tudo se encaixa e devidamente na hora, lugar e tempo certos!


Hasta!

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